No artigo anterior, vimos que as heresias estão em campo desde antes da fundação da igreja, mas que a igreja arrastou consigo, visto que a igreja nasceucdentro do judaísmo. Dentre as principais seitas que existiam no início do chamado cristianismo se destacavam os fariseus de escolas diferentes (Hilel e Shamai), os saduceus, os mais influentes na sociedade. Os essênios, grupo menos urbanos e dedicados às orações no deserto, e os zelotes, aqueles que combatiam na força do braço os opressores políticos de Israel.
Também vimos que os primeiros cristãos eram judeus, e Jesus já os separava do mundo, como uma ekklesia de 13 pessoas, se preparando numa reforma no reino eterno,
anunciada antes pelo profeta Isaías. E, que a igreja de Cristo foi organizada pelos primeiros discípulos, sendo o apóstolo Paulo, aquele que mais destacou os ensinos de Jesus na organização das comunidades, e, assim como Pedro e Tiago, resolveram atuar de forma efetiva no combate às seitas e heresias judaicas daquele tempo. É sabido pela Bíblia, que João Batista já atuava como igreja, tal qual Jesus o admirou perante os homens. Por isso, até caberia apontar o apóstolo o judeu JB como o precursor da igreja, pois além de discipular, batizar e pregar sobre o reino dos céus, João Batista convocava todos os judeus aos arrependimento, um serviço da igreja. Contudo, aqui neste trabalho, não caberia minuciar tais contribuições, pois o interesse aqui é dissertar sobre as heresias, embora tenhamos que mencionar a historia da igreja em algumas linhas para melhor entendimento contextual do leitor.
Nos primeiros séculos da igreja, depois que os apóstolos se foram para o Pai, as heresias continuaram a se manifestar. O combate dos discípulos que recebiam o bastão, ou seja, a responsabilidade de continuar o ensino de Cristo e a Doutrina dos Apóstolos teve grandes desafios pela frente.
Mas, os discípulos contavam com um aliado ainda desconhecido na terra, porém forte no selo espiritual com a igreja, e Justo Gonzalez, em seu trabalho “A Era dos Mártires”, reafirma que “o verdadeiro ator da implantação e crescimento da Igreja é o Espírito Santo, que por meio do poder outorgado aos discípulos de Jesus fez com
que eles pudessem cumprir a missão definida em Atos 1.8.”
No tempo dos apóstolos judeus, e depois deles, na história cristã, continuada em paralelo pelo ortodoxismo oriental e catolicismo romano, a igreja se deparou com várias heresias como o gnosticismo, marcionismo, monarquianismo, sabelianismo, maniqueismo, adocionismo, pelagianismo, donatismo, iconoclasmo, docetismo, nestorianismo, apolinarianismo, eutiquianismo, monotelistismo, albigenses. A maioria dessas teorias colocavam em dúvida a natureza de Deus, de Cristo, ora duvidando de sua divindade, ora de sua encarnação entre os homens.
Algumas heresias fizeram surgir e disseminar diversas seitas as quais confundiam e ainda confundem as pessoas até hoje, como é o caso do movimento da Nova Era (apologia ao gnosticismo) em relação aos aspectos físicos da natureza humana e de seu autoconhecimento como o gnosticismo, por exemplo negando que Jesus não poderia ser o Verbo que virou gente, porque supostamente físico não poderia ser considerado santo, etc. Portanto, estes acreditam que qualquer coisa material é má, o que contraria as visões proféticas sobre a criação, quando Isaías relata que toda a terra está cheia da glória de Deus (Isaías 6:3).
Hoje, porém, vamos nos deter em apenas algumas das heresias históricas mais sensíveis ao nosso tempo, e que ainda permeiam os cultos de nossas igrejas todos os dias
em suas reuniões ou costumes praticados.
Montanismo
Movimento criado na Ásia Menor, por Montano, um sacerdote pagão do século II, convertido ao cristianismo religioso. Dizia-se profeta possuído pelo Espírito Santo, e arrebatou centenas de seguidores.
Isso era aparentemente bom, porém, havia um problema muito grave em sua retórica. O problema não estava nessas proposições. A dificuldade estava em outras afirmações
de Montano e os montanistas. A razão porque o resto da Igreja se opôs à pregação dos montanistas não foi sua ênfase nas profecias, mas a sua pretensão de que agora começava uma nova era, o fim da história. Os pensadores que refutassem o ensino eram considerados blasfemos contra o Espírito Santo.
Pelagianismo
Foi um movimento que surgiu no século V. Seu fundador, um monge gaulês, chamado pelágio, ensinava que o homem pode chegar a Deus através de sua moralidade e méritos próprios, necessitando apenas de uma pequena ajuda da graça de Deus. Mas, isso contraria a Palavra de Deus em Efésios 2:8, que diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”.
Esse pensamento permeia a vida de muitos religiosos até os dias de hoje, levando muitos cristãos ou adeptos do espiritismo ao ativismo religioso e social como prova de seu relacionamento e recebimento de favor de Deus em troca de seus méritos.
Obviamente que a igreja não deve estar alienada à liturgia de seu templo, mas tem a obrigação de atender aos necessitados em suas aflições, contudo essa parte politicamente correta, não tem significado algum para o céu, se isto for apenas um projeto de ordem promocional, política ou religiosa para alcançar a salvação em Jesus. Antes que o homem resolva transformar algo no reino de Deus, o reino de Deus precisa transformar este homem primeiramente. É pela fé e não por obras de justiça que alcançamos a Deus.
Sobre isso Paulo avisou a Tito:
“Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e restaurador do Espírito Santo” (Tito 3:5).
Monasticismo
O monasticismo é um movimento que ainda hoje causa reações diversas entre os cristãos (e também não-cristãos!) Alguns o execram. Outros o veneram. No romanismo ele é
um movimento respeitadíssimo. No protestantismo, pelo contrário, é visto com extrema suspeita, para não dizer desdém.
Provavelmente a oposição protestante deva-se ao próprio Lutero e aos demais reformadores. Para eles, o monasticismo “encoraja a ideia de que existem dois caminhos até Deus, um superior e outro inferior.” E de fato, este pensamento que coloca o clero ou os monges num nível superior aos demais cristãos é estranho ao evangelho que postula o sacerdócio universal de todos os santos (1 Pe 2.9-10).
E, conquanto se possa dizer que nem todos os monges foram afetados pelo orgulho dessa ideia, o fato é que com o passar dos anos, muitos monges chegaram a pensar que, já que a sua vida evidenciava um nível de santidade mais elevado que o dos bispos e demais dirigentes da Igreja, eram eles que deveriam decidir em que consistia a verdadeira doutrina cristã.
Independente da posição que se toma frente ao monasticismo, o fato é que esse foi um movimento importante e abrangente na história da Igreja. E é sobre ele que daremos mais informações a partir de agora.
Comecemos pelo pano de fundo do movimento. Ele foi, em grande medida, uma reação ao mundanismo que se via na comunidade cristã, especialmente dos séculos IV e V. A maioria dos que entravam para a Igreja era realmente pagã, gente de vida reprovável. Diante disso, era natural que aparecesse uma queda no nível moral do caráter cristão.” O luxo e a ostentação se apossaram dos altares cristãos e o caminho estreito se transformou numa larga avenida. O próprio clero estava maculado, pois os bispos competiam pelas posições de mais “prestígio” dentro da Igreja. Gregório de Nazianzo também chegou a dizer que “os postos principais da Igreja são obtidos pela prática do mal, não pela virtude; e a posição de bispo não pertence ao mais digno, mas ao mais poderoso.” Assim estava a Igreja a partir da adesão de Constantino ao cristianismo.
Além disso, como afirma Justo Gonzalez, ainda que o gnosticismo tenha sido derrotado, “seu impacto continuou se fazendo sentir na opinião de muitos, que pensavam que de um modo ou de outro o corpo se opunha a vida plena do espírito, razão pela qual era necessário sujeitá-lo e até castigá-lo.”
Um parênteses para pensar no ocorre na esfera política da igreja evangélica, que como os saduceus e alguns fariseus se empenham em tornar o reino de Deus como uma
sociedade comum de vaidosos em busca de títulos nobres em troca de favores. Representariam esses favores políticos mais ameaças aos propósitos divinos para o seu povo,
que é fugir de ensinos falsos, ou seja, de seitas e heresias?
Voltando à história da igreja, do lado de fora, o movimento monástico recebeu influências da filosofia clássica que via o corpo como prisão ou túmulo da alma. A tradição estoica estava bastante difundida à época do movimento monástico. Pregava o domínio das paixões ao ponto de excluir lícitos prazeres. Também várias religiões da costa mediterrânea tinham virgens sagradas, sacerdotes solteiros e eunucos que se separavam para o serviço dos deuses. Os cristãos usaram tudo isso como exemplos e logo os somaram aos incentivos das Escrituras, para dar forma ao monaquismo cristão. Uma mistura de ritos pagãos estava sendo inserida sutilmente no contexto cristão.
Resumindo, o movimento monástico surge e se desenvolve por causa de três fatores:
1) a mundanização da Igreja.
2) segundo: a interpretação bíblica tendenciosa.
3) terceiro: a religiosidade ascética do paganismo. Inicialmente o movimento se encontra na parte oriental do Império. Entretanto, “no século IV a ideia monástica chegou ao ocidente. Ganhou logo popularidade e muitos homens tornaram-se monges e freiras.
Literalmente milhares de homens e mulheres viram nesse movimento a expressão do verdadeiro cristianismo. E, ainda que não se desligassem da Igreja, viveram um cristianismo solitário e distante da Igreja.
E realmente, muitos cristãos daquela época chegaram “a pensar que a verdadeira vida religiosa, tanto para homens como para mulheres, seria dar de mão a todos os bens,
viver em pobres alojamentos, vestir-se sem conforto, alimentar-se muito pouco, flagelar-se em penitencia, viver em celibato”.
Sabemos das raízes, mas quem foi o fundador deste movimento? Não se sabe e provavelmente nunca se saberá. O que sabemos é que desde o século II há a menção de monges
nos desertos, especialmente egípcio. Mas, apesar de não sabermos quem foi o primeiro, Antônio é considerado o primeiro monge. Esse homem foi filho de pais abastados. E aos 20 anos, com o falecimento deles, herdou considerável fortuna que poderia fazer tanto ele quanto sua irmã viverem o resto de suas vidas sem problemas.
O Combate às heresias
Ainda na história da igreja, os movimentos heterodoxos tiveram a sua importância para a efetivação da autoridade e firmeza da ortodoxia. Graças a esses movimentos que a igreja rejeitou e repeliu com veemência tais movimentos gnósticos e também marcionistas. Era necessário seguir os princípios fundamentais dos ensinamentos de Cristo para que o Cristianismo não fosse extinto por causa das heresias que surgiam a cada tempo na história da igreja dos primeiros séculos.
Até o século V, neste cenário de perseguições e heresias, que se forma a Igreja Católica, naquele momento, responsável, dentro do possível, pelo combate às heresias e aos exageros praticados em nome da fé cristã.
O catolicismo, naquele momento, ajudou a manter o cristianismo vivo dentro de um cenário confuso. As bases da ortodoxia e da heterodoxia são fixadas nestes tempos.
Ao tempo que se combatia heresias, o próprio romanismo protagonizou experiências duvidosas em sua história. Um bom exemplo disso é a afirmação que hoje soam estranhas
ou são rejeitadas pela fé dos reformistas da igreja dos séculos de dois dígitos. Uma dessas afirmações é que fora da Igreja Católica não há salvação. Dentro daquele contexto, era mais do que importante, era fundamental criar-se unidade e parâmetros para diferenciar o certo do errado, o verdadeiro do falso.
As heresias da igreja moderna
As heresias continuam nascendo todos os dias, na sua grande maioria por causa da ganância, resistência às Boas Novas ou por causa da vaidade do coração do homem. Elas são muitas, e já muito bem conhecidas em nosso tempo. Por isso, não é necessário nesse pequeno artigo o tratamento de todas elas. Contudo, eis ao menos três heresias da igreja evangélica do século XXI:
No campo do empoderamento, muitas são as seitas dentro do cristianismo. Uma das mais velozes heresias está nesta área do imperialismo e do poder religioso. Você conhece alguma religião que tenha um país exclusivo para o desenvolvimento político de sua religiosidade?
Na área do faccionismo, a igreja tem buscado levantar uma bandeira que Jesus não a promoveu, que é a bandeira do denominacionalismo. Igrejas preocupadas em estabelecer a sua “marca”, e nisto se empenhando como a premissa do ensino de Cristo e dos apóstolos. Talvez a heresia mais praticada no Brasil, quando se alega que a marca da denominação é mais importante do que a fé. Um espírito de facção combatido por Paulo em I Coríntios 1-12 13:
“Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo.Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?
Você se lembra de algum movimento evangélico em que os discípulos são muito pobres e os líderes milionários e famosos? A heresia monarquista é dissimuladamente disseminada nas igrejas mais pobres e até as mais ricas. Nesse campo das finanças as pessoas são levadas ao engodo de buscar uma riqueza ou bênção nesta vida, tão somente se atender a condição especial de “dizimar” ou “ofertar” como pré-requisito único de atendimento às suas orações e necessidades. Uma troca de favores com Deus? Comprar coercitivamente qualquer objeto considerado “consagrado” por valores exorbitantes nem lhes confunde a mente. Não sabem que estão ficando mais pobres a cada dia ao alimentar às vaidades e o ego de falsos profetas, gananciosos e sedentos de holofotes e mais luxúrias no campo da mentira. Jesus é o maior tesouro da igreja. Se os fiéis soubessem que já são ricos e prósperos, e que ter Um Tesouro Inegociável como é Jesus e as suas promessas, isso já bastaria para receber uma herança maior. Se a igreja soubesse dessa riqueza e dessa bênção eterna, abandonaria essas dependências absolutas de iluminismo, coisas e objetos temporais, para se dedicaram ao que Cristo mandou fazer. Aqui nesse campo verifica-se ao menos dois anseios dos fiéis: a alta ansiedade e a necessidade de riqueza material. Porém, não é necessário o flagelo, nem a bajulação, nem os sacrifícios financeiros, nem negociações espirituais. Se você é de Cristo, então você já é rico.
“Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tiago 2:5)
Conclusão
A igreja cristã, que foi formada inicialmente por judeus, teve desde a sua fundação, fortes crises de combate direto aos hereges e aos falsos profetas e apóstatas da fé.
Mas, em todos os tempos o Deus Eterno levantou homens e mulheres de fé e de intensa firmeza em seus princípios eternos, os quais empregaram tempo em oração, disciplina
na Palavra, perseverança, liderança e força para combater as seitas e heresias. Na igreja de nosso século continuamos a combater as seitas e às heresias, pois as tais ameaças ao cristianismo ainda continuam se multiplicando pelo mundo. Mas, Deus continua trabalhando e levantando os seus filhos de fé deste há muito tempo para continuar a “combater o bom combate”, guardar a fé, até completar a sua carreira, como se dedicou o nosso apóstolo Paulo dentre outros heróis da fé. Então, podemos dizer que as heresias acabam por ajudar a definir os fundamentos da fé da forma como temos visto na história da igreja até os dias de hoje.
“Porque os ídolos têm falado vaidade, e os adivinhos têm visto mentira, e contam sonhos falsos; com vaidade consolam, por isso seguem o seu caminho como ovelhas;
estão aflitos, porque não há pastor. (Zacarias 10:2).
Sigam a Jesus! Ele é o Caminho, A Verdade, e a Vida!
Até a próxima.
Créditos ao site Gospel Prime pela coluna.
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Que Deus os abençoe, em nome de Jesus.
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